Ninguém nasce sabendo

Assim como crianças não vem com manual, é igualmente verdade que pais e mães não nascem prontos. Junto com o pequeno bebê, nascem dúvidas e inseguranças que vão sempre fazer parte desta grande aventura que é a paternidade. Com o passar dos anos, na medida em que os filhos crescem, as velhas dúvidas vão sendo substituídas por dúvidas novas, e as respostas quase nunca são definitivas. O único remédio é manter a cabeça aberta e procurar informações - que podem vir da experiência de outros pais, da escola, e de tantas outras fontes. Na medida do possível, procuramos responder aqui as perguntas que nos são encaminhadas. Para enviar a sua, use o email crescendo@crescendoeaprendendo.com.br

Meu filho não relaxa

Meu filho de 8 anos tem facilidade de ficar irritado e é preocupado demais. Quer saber se a professora vai gostar da tarefa escolar, se os pais estão se arrumando cedo para atender ao horário combinado (como se não fossem se organizar sem a pressão dele). Sempre conversamos que todos erram e que nada é perfeito, mas sabemos que não adianta tanta conversa. Gostaríamos de saber se existe alguma atividade que possa ajudá-lo a relaxar e a crescer mais tranquilo.

R. A pergunta sugere algumas questões relacionadas com ansiedade (controle, preocupação em agradar) e excesso de exigência. Além de sugerir atividades para relaxar (ligadas a artes, música e atividades esportivas não competitivas), é importante que a criança tenha modelos de organização no dia a dia. Na medida em que os pais cumprem horários, estabelecem rotinas e as seguem, fazem "combinados" e ajudando a realizá-los, os filhos assimilam naturalmente essas referências, tornando-se mais tranquilos e seguros. A tarefa escolar é um dos primeiro treinos de responsabilidade. É importante que a criança a assuma e seja incentivada, com ambiente favorável e estímulo para cumprir o que deve fazer no prazo estabelecido.

Falando como um bebê

Há dois anos passei por um processo de separação. Tenho dois filhos com seis e cinco anos. O pai deles já está casado e acaba de ter mais um filho. As crianças convivem com o pai e a nova família quinzenalmente nos finais de semana. Agora o mais velho, que sempre falou corretamente, está falando como um bebê. Isto é normal?

R. Quando passam por alguma situação difícil de lidar as crianças sinalizam a necessidade de ajuda ou atenção através de mudanças no padrão de comportamento. A fala infantilizada é uma delas. Em pouco tempo essas crianças viveram uma transformação muito grande na rotina familiar: separação, afastamento do pai,inclusão da nova mulher e nascimento de e um bebê, incluindo todos os sentimentos, emoções e climas emocionais que isso tudo gera no meio familiar. Então pode-se dizer que nesse contexto a fala infantilizada é uma forma saudável de reagir, na medida em que através desse comportamento a criança sinaliza que está difícil digerir tantas novidades, diz que está difícil crescer, enfim, pede para ser olhada e compreendida. O ideal é esperar um pouco para adaptação de todos a tantas novidades, e se a dificuldade persistir buscar avaliação e orientação de um psicólogo.

Ganhando e Perdendo

Costumo jogar com meu filho depois que volto do trabalho e nos finais de semana. Acontece que quando ele perde fica muito triste ou bravo e tenho ficado em dúvida se devo deixá-lo ganhar.

R. O jogo tem papel fundamental no desenvolvimento das crianças: ajuda na formação de vínculos, desperta emoções, provoca desafios, desenvolve o raciocínio e a organização, ensina a respeitar regras, “imita a vida”. Aprender a lidar com a frustração, apesar da tristeza que esta provoca, também é muito importante para o desenvolvimento e crescimento do ser humano.
O jogo proporciona este exercício facilitando a convivência familiar de forma lúdica e divertida. E tanto ganhar quanto perder, faz parte! Aos poucos as crianças aprendem que, se perdem um vez, na próxima poderão ganhar, descobrindo não apenas o gosto da vitória mas aprendendo a perder e lidar com frustrações que são inevitáveis na vida.

Amigo imaginário?!?

É normal uma criança de três anos ter um amigo imaginário?

R. É muito normal, e para os adultos essa "realidade" às vezes parece assustadora, já que as crianças falam, discutem, perguntam e respondem como se estivessem realmente diante de outra pessoa. Geralmente o amigo imaginário surge na vida da criança aos dois ou três anos e sai de cena no final da primeira infância, por volta dos seis anos. O personagem costuma aparecer como um grande companheiro, e também como responsável por todas as artes e peripécias que possam ser desaprovadas pelos pais. O amigo imaginário do filho pode se tornar um grande amigo dos pais na medida em que souberem aceitá-lo como parte do desenvolvimento normal da criança e como um excelente aliado para traduzir o que seu filhos estão sentindo ou querendo comunicar.

Posso pensar e responder depois?

Meu filho tem cinco anos e pergunta muito sobre tudo. Algumas perguntas me deixam perdido e não sei como responder. Posso pensar e responder depois?

R. Se a criança faz uma pergunta e você não sabe como responder é saudável não fazer rodeios, nem enganá-la ou dar meia resposta. É fundamental que se diga claramente que vai procurar informação e que a pergunta seja respondida assim que possível. Nesta fase as crianças acreditam que seus pais sabem tudo. Faz parte do crescimento a percepção de que não é bem assim. Aproveite a oportunidade para mostrar que dá importância às suas perguntas e ensinar que quando não sabemos alguma coisa podemos buscar informação e aprender.

Meu filho gagueja

Meu filho acabou de completar 3 anos, e recentemente começou a ter dificuldades para falar. Especialmente quando está mais excitado, ele gagueja e "trava" na hora de falar algumas palavras. O que podemos fazer? Será que ele vai ser gago?

R. Esse comportamento é considerado normal na idade dele, e não significa que ele será um adulto gago. Os pais devem evitar demonstrar preocupação, imitá-lo ou complementar as palavras antes que a criança possa dizê-las. Na maioria das vezes, a gagueira some naturalmente, na medida em que a criança ganha desenvoltura para articular as palavras na velocidade do pensamento. O ideal é continuar observando, e caso a dificuldade persista pode-se avaliar a necessidade de consultar um profissional da área de fonoaudiologia.